domingo, 16 de agosto de 2009

Jornalismo de fronteira

Ponta Porã - cidade sul-matogrossense com pouco mais de 70 mil habitantes. Forma uma conurbação com Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que, com a fronteira seca, facilita as relações comerciais. Ponta Porã recebe muitos turistas diariamente, pessoas de todos – sim, todos – estados brasileiros que viajam em busca das mercadorias paraguaias. Pedro Juan é conhecida pelos seus ‘importados de qualidade’: bebidas, computadores e todas as mercadorias que o Paraguai e o grande Shopping China podem nos oferecer com facilidade. Ligados principalmente pelo comércio, cidadãos dos dois países vivem em harmonia como conterrâneos.

Apesar de sete anos vindo para cá só para visitas familiares, nasci aqui e sei que sempre que possível estarei em Ponta, até porque é a cidade em que meus pais residem. Já morei em seis municípios diferentes e nenhum é mais curioso. Ponta Porã é a cidade que, em cinco minutos de caminhada pelo centro, você facilmente encontra um brasileiro, um índio, um paraguaio, um coreano e um turco, no minímo. Uma cidade com famílias tradicionais, que se conhecem a longa data, e com uma mistura de culturas incrível.

Ao ligar o som, no Brasil ou no Paraguai, aqui você pode escolher entre a emissora brasileira Transamérica Nova FM ou a paraguaia Amambay FM – que são as melhores. Na verdade, há pelo menos 12 emissoras de frequência modulada que podem ser sintonizadas na região, sendo que a maioria é pirata. Na televisão não é diferente, no canal aberto é possível sintonizar canais dos dois países e a emissora filial da Rede Globo na cidade é pólo regional, produzindo, diferente de outras cidades no estado, programas informativos separadamente da capital Campo Grande. Quanto ao jornalismo impresso, Ponta Porã possui três jornais: o diário Jornal da Praça, e os semanais Jornal Regional e Jornal de Notícias.

Apesar de tantos meios possíveis, engana-se aquele que acredita que o ponta poranense busca a primeira informação nos canais citados acima. O destaque de informação na cidade é o jornal online Capitanbado ( http://www.capitanbado.com/ ) . Quando um assunto – geralmente de apreensão de drogas ou armas, prisão, fuga, assassinato, chacina ou algo do gênero – está em pauta nas rodas de tereré dos jovens ou de cafezinhos das senhoras, a primeira frase a se ouvir é: ‘Você viu no site?’. Nem é preciso nomeá-lo, Capitanbado é conhecido como ‘o site’ pelo pessoal daqui.

Capitanbado oferece um ‘jornalismo’ dinâmico, com fotos das vítimas tiradas poucos minutos após o assassinato – o crime pode até mesmo ser um ‘queima a roupa’ com alguns tiros na cabeça. Pela sua fama e grande acesso, o site tem espaço publicitário maior que alguns jornais impressos da região. E são os mais diferentes patrocinadores! Entre banners de lojas de importados é possível ver propaganda de políticos paraguaios, ONGs, marca de ervas de tereré e empresas funerárias brasileiras. O site recebe milhares de visitas durante todo o dia. As matérias ainda podem ser lidas em mais de um idioma: espanhol ou em português. Pois é, ‘jornalismo’ globalizado! O site ainda oferece videos, inclusive reportagens sobre o PCC na fronteira.

Ponta Porã é uma cidade curiosa e interessante, mas difícil de se viver. Difícil, principalmente, por colocar você diante de fatos terríveis que com o passar do tempo acabam tornando-se lembranças remotas e apenas são armazenados em um site que divulga informações – não confirmadas - sem citar suas fontes.

Ironias a parte, desculpem a Fer pelo post que, mal feito, acabou mais para um desabafo. É difícil para mim, que estou aqui, tentar demonstrar a vocês toda minha indignação com o que acontece na fronteira.

*Nota: No dia 12/08/2009 o corpo de uma professora e artista plástica de ponta porã foi encontrado em terras paraguaias. O corpo, em toda sua extensão, apresentava feridas de arma branca e machucados nos olhos. A vitíma foi estrangulada. O site Capitanbado divulgou fotos do corpo e informações sobre a investigação do crime que foram desmentidas pela polícia depois.

2 comentários:

Vitor Oshiro disse...

Belo texto, menina de peito do jornalismo!!!

Bruna Santiago disse...

É Fer, 3 Lagoas está quase nesse nível. Rádio Caçula aqui é igualzinha a Capitanbado. Trágico, mas fato!
Adorei o post, jornalista preferiida!